sábado, 4 de abril de 2009

Depoimentos do Processo - Março 2009

"e a nossa roda vai se formando..." - abaixo alguns depoimentos do nosso encontro durante o mês de março no Espaço Corpo do Sesc-Copacabana:


Experiência vem sendo a palavra dita em muitos níveis pelo meu corpo. Essa q vem de maneira individual ou coletiva mas sempre de olho (aberto ou não) no espaço. Uma delícia, que alcança o êxito tão e somente porque existe o grupo! Obrigado a todos! / SoGu, adoro esse apelido conjunto. Dá uma idéia real da importância dessa união. Essa que possibilita a transformação dos corpos (coisa q vem de dentro pra fora) ali presentes! Sinto também que as conexões começam a existir de maneira mais profunda, devido sem dúvida ao tempo e a entrega de cada um de nós. Espero que consigamos formar nosso alfabeto de SoGus, BruPus, MaJes, ResTus, e por aí vamos!Mais uma vez e sempre, obrigado a todos! (Bruno Marcos)


...e seguir com a experiência que faz o corpo falar experiência, escrevendo a palavra experiência, se entregando a experiência, se tornando a experiência... traz a beleza e como disse o poeta "...a dor e a delícia de ser o que é..."!... MOVER E SER MOVIDO!!! Vamos com o CG p/ frente e com todos os outros inimagináveis centros dentro fora perto longe pulsar juntos!!! Obrigado Bruno por iniciar essa conversa escrita e a todos pelo comprometimento das presenças em carne e osso no SESC. Vamos dar prosseguimento a nossa busca do Contato Autêntico! (Gu!)


Antenada estremece, vôa, rasteja, nada...Testando experimento testemunhar e mover. Vejo, acolho, ofereço.Tudo dentro e fora, perto e longe. Contexto: o universo.Compreendo poeticamente e estremeço.Julgo, analiso. Tudo me serve, sou eu o diverso.E serve ao outro (eu) anjo reverso.Há muito me sei antena do outro (eu) preverso. (Bere)



Tem sido muito interessante participar desses exercícios. Fiquei tomado pela proposta. Duas palavras são importantes para ressaltar nesses momentos. Troca e observação. São questões primordiais a serem colocadas e experimentadas nos exercícios de relacionamento. Tem sido uma troca de experiências muito gratificantes. (Luiz Cláudio Martins)


Reconstruir o corpo, respeitá-lo, viver seus limites. A roda, o acolhimento,o contato, o olhar do outro. O prazer no movimento. A plasticidade, o invólucro, a pele, a percepcão óssea, deslizar, mover a partir deles, o tato, o contato. Obrigada por me permitir. / Mover-se no espaco, mover-se no corpo, mover-se com o corpo, ser movido. Para onde o movimento flui? para dentro ou fora dele? (Leila da Cunha)


O movimento fica no ar, entre um encontro e outro, impossível de capturar, por isso apaixonante. Contar o que se viveu mostra já um outro corpo. O corpo do dia que perdeu parte da história de ontem. Só uma possibilidade, a transformação. Conta-se não para lembrar, mas para esquecer, para criar novamente a história. A cada dia, uma página em branco. Uma espera, pausa para começar com o novo que se apresenta. Escuta, o que o chão diz sobre meu corpo hoje? Pausa para o silêncio do conhecido, do nome, da roupa, dos gestos, de tudo o que é meu. Que possibilidades me apresenta o vazio? A percepção vai alinhar interior e exterior. O vazio da roda está dentro. Fecho os olhos, posso ver. Um imenso espaço por dentro, infinitas possibilidades de percorrê-lo. Por onde? Há uma escolha? Qual o critério? Pensando, nada compreendo. Calma, aos poucos os desenhos se formam. Como se desenha sem olhar para a linha que marca o papel, a mesma confiança do gesto, seria possível a palavra descansar do racional?Caminho, diferença, gente, útero, fisgada, furacão, cuidado, joelho, crista ilíaca, períneo, abraço, chão,diferentes planos, desequilíbrio, pontos, apoios, roda, de olhos fechados, testemunho, confiança, aconchego,ar, zero....ponto zero. Ecoam em meu vazio as seguintes perguntas: como é caminhar lado a lado, quando sei que vamos nos separar, como posso saber que o outro vai sair, como posso mostrar que vou seguir outra direção? Esse vazio turvo e inquieto no qual me movo é o indício de algo parcialmente novo. Fazer a passagem para a matéria escrita, a palavra concreta é o desafio dessa hora. Onde reina a beleza da dança é onde falta a palavra e o corpo inteiro fala. Por onde falta, não se sabe o que lhe faz falta, na insuficiência crônica que não conhece nenhum alívio e por isso continua procurando pelo movimento. (Movedora)


Postou-se no chão. Grudou-se nele. Deslizou. Roçou-se, para limpar-se.
Entregou-se.
Escutou-o.
Ele dizia - entre batidinhas, suspiros, arrastadas e uma espécie de mar ao fundo:
-Tô te escutando!
"As palavras me coisam", diz Manoel de Barros. Esse poeta pantaneiro gosta que as palavras peguem delírio, tal qual Mário Quintana, outro velhinho simpático, porto alegrense, que dizia: "eles passarão, eu passarinho". Pois as palavras me dançam. O chão me dança em nossa amizade e a cortina me dança em seu olhar de veludo e outro corpo me dança em sua proximidade e o escuro das minhas pálpebras me dança em seu toque. Isso quando eu estou nas terças e nas quintas. Mas algo aconteceu: o tempo se dilatou e aí convido o chão da rua pradançar (o pobre vive sendo pisoteado), aí a escuta do chão do SESC ecoa na escutade um grupo de crianças em uma clínica e o toque de alguém se amplifica emreverberações ao acordar de manhã. Um dia eu faltei. E não pude resistir: tive que mover com as palavras. As palavras me dançam, saltitam à minha frente, evocadas em uma memória decorpo que... quer mover. As palavras, justo elas, que me impediram uma quinta-feira, elas que me prenderam à cadeira quando eu queria dançar comochão da NOssa Senhora de Copacabana até decolar no SESC com o escuro das pálpebras para antenar em um toque de corpo por perto. Mas elas não sabiam, as palavras, que elas mesmas são matéria para mover (ous erá que sabem?). E então me vingo delas, das palavras, fazendo o mesmo que fiz na última vez que houve terça. Lá eu fiz delas movimento, do limão limonada, do peso leveza, lá quando todos acolhemos nossa raiva - ao menos a minha, das palavras! - e descoisamos elas. Alguéns testemunharam. Agora eu envergo elas, as palavras, e deliro elas, e decolo elas, simplesmente porque. Não posso deixar de dançar. (Alice)

Um comentário:

F. disse...

“Qualquer que seja o bairro, o distrito, a cidade, a região, o estado, o país, há de haver um lugar, um espaço próprio, onde a dor, a angústia, o sofrimento profundo, a doença possam ter escuta e, se necessário tratamento”.
Princípios éticos/doutrinários do SUS

Claro que on o inverso tambem precisa ter escuta para haver um equilibrio.